quarta-feira, 1 de junho de 2011

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL


Texto de apoio para a redação :  Sustentabilidade ecologicamente ambiental

Sustentabilidade ambiental

     Os crescentes problemas ambientais e o crescimento da população miserável puseram em cheque o conceito de desenvolvimento. Foi nesse momento, ainda no âmbito das ciências econômicas, que surgiu a ideia do desenvolvimento sustentável. Um conceito que pregava a noção de um modo de vida e produção que garantisse as necessidades das atuais gerações, sem comprometer as necessidades das gerações futuras. À primeira vista, é um conceito muito claro, mas dá abertura a muitas interpretações.

     Do ponto de vista de uma grande corporação, desenvolvimento sustentável é aquele que garante a produção atual, sem comprometer a produção futura da empresa. Por exemplo, para uma empresa de papel, desenvolvimento sustentável é produzir celulose hoje, sem comprometer a capacidade futura de produção da empresa. Não se considera o bioma deslocado pelas árvores plantadas, populações retiradas de seus territórios tradicionais ou mesmo uma empresa concorrente.

     Pode-se ver que desenvolvimento sustentável é um conceito antropocêntrico, calcado na ideia de que qualidade de vida é uma decorrência direta de altas produções econômicas. Portanto a questão é que o conceito de desenvolvimento sustentável vem sendo interpretado principalmente sob uma ótica econômica, relacionada à perpetuação dos atuais processos produtivos, sabidamente concentradores de riqueza e degradadores da natureza. Ainda está fora dessa visão a maioria da população humana e todas as demais formas de vida do planeta que não são úteis aos processos produtivos atuais.

     Por isso é que no Movimento Ecológico falamos em desenvolvimento ecologicamente sustentável. Um conceito que visa à construção de vários modelos de vida interdependentes e complementares entre si que resultem em processos produtivos que busquem, em primeiro lugar, a perpetuação de todas as formas de vida do planeta dentro de um patamar de plena existência para as atuais gerações, sem comprometer as mesmas possibilidades para as futuras gerações.

     O conceito de desenvolvimento ecologicamente sustentável pede um olhar diferente para todo o planeta. Deixa claro não serem toleráveis todos os problemas sociais e ambientais atuais. Ao contrário, aponta que eles são uma prova cabal de que as boas intenções dos que pregam o desenvolvimento sustentável ainda não compreenderam o verdadeiro dilema contemporâneo e não estão, de fato, dispostos a criar um novo paradigma que considere todos os aspectos da existência da vida na Terra e faça frente às ameaças criadas pelo paradigma da modernidade e a sua continuidade no tempo.
Arno Kayser,
agrônomo, escritor e ecologista. Autor do livro A reconciliação com a floresta - por uma atitude ecológica

Viver em harmonia com a natureza é ter compromisso e responsabilidade tanto com as gerações atuais e com todos os seres vivos, sobretudo aqueles mais desprotegidos e excluídos, como também com as futuras gerações.
     Sobre esse tema, que será amplamente debatido durante a Campanha da Fraternidade 2011, conversamos com Euclides André Mance.

 ENTREVISTA DE EUCLIDES ANDRÉ MANCE CEDIDA AO JORNAL MUNDO JOVEM
 Euclides André Mance,
do Instituto de Filosofia da Libertação e do Portal Solidarius, Curitiba, PR.
Mundo Jovem: O que está acontecendo com o nosso planeta atualmente?Euclides André Mance: Em dois bilhões de anos a natureza foi diversificando a vida complexa, gerando uma grande biodiversidade em todo o planeta. A emergência da espécie humana faz parte desse percurso. O nosso coração que bate é parte da natureza. O sangue que circula pelo nosso corpo é parte da natureza. Mas o capitalismo converteu a natureza em capital natural. Converteu a vida em algo que deve gerar lucro, para que alguns possam acumular mais riquezas, não se importando se o equilíbrio dos ecossistemas está sendo degradado.

     Essa lógica de negação da dimensão natural da existência humana, essa cultura de subordinar a vida à acumulação de capital levou a um processo de degradação dos ecossistemas em todo o planeta. Milhares de espécies estão sendo extintas. A vida humana está sendo ameaçada. Mais de um bilhão de pessoas passam fome no mundo e as tecnologias insustentáveis continuam a se desenvolver de forma cada vez mais danosa aos ecossistemas.
Mundo Jovem: Podemos afirmar que vivemos uma crise ecológica?Euclides André Mance: Exatamente. E precisamos compreender, em primeiro lugar, que a nossa vida depende do ar que a gente respira, depende da água que a gente bebe, depende da comida que nos alimenta e que se transforma em nosso sangue, em nosso corpo. Sem essa percepção de que somos parte da natureza, não haverá solução para a crise ecológica.

     Em segundo lugar, é necessário superar a lógica econômica que reduz a natureza a um recurso a ser explorado como capital natural. A vida que, durante dois bilhões de anos veio se diversificando, se sustentando e se reproduzindo em tantas formas diferenciadas, corre o risco agora, em algumas décadas, de marchar para a extinção de milhares de espécies devido aos impactos do desenvolvimento tecnológico insustentável nos ecossistemas, com o efeito estufa, com as chuvas ácidas, com toda a degradação do solo, com o progressivo esgotamento de ciclos naturais autopoiéticos (que se sustentam).
Mundo Jovem: Que alternativas temos?Euclides André Mance: É fundamental praticar um outro tipo de consumo e de produção, que sejam sustentáveis. É a relação solidária entre as pessoas para o bem-viver de todos que deve dar sentido e limite à consumação das coisas e à proteção dos ecossistemas. Os produtos e serviços devem ser compreendidos como meios materiais para a realização do bem-viver. Não se trata de consumir para ostentar poder. Mas de consumir para realizar o bem-viver das pessoas e coletividades, em equilíbrio e harmonia com os ecossistemas.

     A economia solidária é uma alternativa, pois ela é economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente sustentável. É preciso modificar a forma de consumo. Parar de consumir produtos que são tecnologicamente danosos ao planeta. Quando nós compramos um produto da economia solidária, a riqueza gerada vai ser distribuída entre os trabalhadores, em empreendimentos que não têm nem patrão, nem empregado. E esses valores vão ser utilizados para promover o bem-viver dos trabalhadores e consumidores, das comunidades, das pessoas, de modo tal a assegurar a vida de cada um e o direito à felicidade.

     É preciso também, com a economia solidária, reorganizar as cadeias produtivas de modo que as energias utilizadas sejam renováveis; que o processo de comercialização seja feito de modo a efetivá-lo como um encontro entre pessoas; que se perceba que em cada produto existe vida humana realizada, e que essa vida humana é absorvida quando nós consumimos esses produtos.
Mundo Jovem: A pobreza também pode ser considerada um desequilíbrio ecológico?Euclides André Mance: Com certeza. A ecologia deve ser compreendida em suas várias dimensões. Félix Guattari falava de uma ecologia ambiental, social e mental, por exemplo. Quando organizamos ecologicamente os fluxos econômicos em um território, todas as pessoas integradas ao meio ambiente natural e social devem ter condições de obter os meios materiais e simbólicos requeridos para a realização de sua vida nessas dimensões, assegurando-se eticamente o seu bem-viver. Isso significa o direito a um ambiente saudável, ao alimento, vestuário, habitação, educação, saúde, lazer e tudo o que seja requerido à realização ecologicamente sustentável de sua vida humana; direito à vivência de relações sociais solidárias e respeitosas quanto à diversidade de culturas.
Mundo Jovem: É possível “viver bem”, como você fala, sem consumir muito ou cada vez mais?Euclides André Mance: O consumo é intrínseco a todo ser vivo. Os seres humanos não podem, por exemplo, viver sem respirar. E respirar é consumir oxigênio. Durante todo o dia estamos consumindo as reservas de energia com as quais nos nutrimos. A questão fundamental é reduzir toda forma de consumo insustentável e excessivo e ampliar o consumo sustentável para a realização do bem-viver de maneira equilibrada em relação aos ecossistemas. As pessoas que passam fome no mundo e estão desassistidas dos meios materiais necessários ao seu bem-viver precisam consumir mais, para que possam realizar com dignidade o bem-viver. Por outro lado, as pessoas que consomem de maneira excessiva devem modificar seus hábitos de consumo, para que sejam hábitos sustentáveis. Isso significará consumir menos, mas consumir melhor, ampliando sua qualidade de vida com a redução do consumo insustentável. O bom da vida é consumir para o bemviver. Não é viver para consumir aquilo que o capital espera que consumamos, para que se realizem os lucros das empresas que azem todo o possível para nos vender coisas e serviços que, de fato, não necessitamos.
Mundo Jovem: Como o jovem, que vive sob a pressão da propaganda e do consumo, vai mudar de mentalidade?Euclides André Mance: A primeira coisa é perceber onde investimos nosso desejo. O tempo todo somos seduzidos e persuadidos a comprar. A juventude é muito suscetível a essa mobilização do desejo. E quando esses desejos seduzidos não se realizam, tem-se a frustração. Mas a mercadoria oferecida como condição de satisfazer o desejo também não aplaca a ânsia do consumo, pois uma nova publicidade gera um novo desejo. E assim a subjetividade do consumidor vai sendo produzida pelas semióticas do capital. Os imaginários são explorados e as utopias agenciadas para mover à compra e realizar o lucro das empresas. O fundamental é justamente investir nosso desejo naquilo que realmente realize o nosso bem-viver. Os desejos singularizantes da vida, em geral, estão associados a vivências realmente humanizadas que temos na relação com outras pessoas que nos desejam por aquilo que somos e não por aquilo que temos. Que gostam da gente e não das coisas que temos. A singularização do desejo deve vir acompanhada de uma elaboração mental, emocional e ene gética em torno do bem-viver de cada qual, que será diverso a cada pessoa, em cada cultura.
Mundo Jovem: A escola pode ajudar nessa mudança de mentalidade?Euclides André Mance: Com certeza. A escola pode ter um importante papel ao desencadear essa subjetivação que rompe com as semióticas do capital e dá vazão a desejos singularizantes em processos de encontros entre as pessoas, refletindo sobre suas aspirações e utopias de vida. A problematização e o diálogo a respeito dos jogos da publicidade e de como as pessoas são derrotadas nesses jogos - na medida em que seduzidas por eles se afastam do seu próprio bem-viver pessoal e singular para atender aos apelos de consumo alienados - são ações pedagógicas importantes de serem realizadas nas escolas. Refletir sobre o consumo responsável e solidário, sobre a economia solidária, que gera os meios econômicos de maneira sustentável e democrática, colabora para essa mudança de mentalidade. Mais do que fazer apenas uma crítica, o importante é um trabalho pedagógico que contribua para a desalienação não só da consciência mas especialmente dos desejos, da sensibilidade, desencadeando novas atitudes

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